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UNIFICAÇÃO DE ELCARIS

Elcaris, conhecido como “O Branco”, foi um dos primeiros grandes homens a surgir na terra, anteriormente dominada por criaturas ferozes e civilizações primitivas de outras raças, como os Ápires, guerreiros sem causa que não pensam em nada a não ser em uma morte gloriosa sobre uma pilha de cadáveres inimigos – pra citar apenas uma das ameaças.

Sua força e carisma motivou diversas tribos e famílias a se juntar à ele, construindo assim uma cidade litorânea que logo se tornou a jóia da coroa Elcariana, Tirínia, a cidade-real.

Em uma campanha militar jamais repetida na história, Elcaris juntou forças com tribos nômades de Arderas, merídios e grupos de mercadores de armas, os atuais bertorianos, e expulsou os Falcões de Guerra, principal facção Ápir dominante no grande continente, além dos Rexim, Rufus, Anocádios, e os repugnantes Acquaris desertores restantes. Não importava se eram aves, lagartos, peixes, ou qualquer outro exército de bestas, Elcaris sempre obtinha uma vitória total, graças às suas grandes qualidades de líder, estrategista e combatente como nenhum outro.

Um homem de tamanha grandeza não poderia receber honra menor do que esta: a data de sua morte é oficialmente reconhecida como o início da “Era dos Homens”.

Muitos anos se passaram, e dos filhos vieram netos, e bisnetos, e logo as várias famílias de Elcarianos estavam firmemente estabelecidas. Sua cultura e conhecimento superiores logo os destacaram dos demais homens que, apesar de proliferarem em igual proporção, não atingiam a perícia arquitetônica, acadêmica, e muito menos militar de nosso grandioso Reino.

Mas infelizmente, como tudo na vida, a maldade e vilania sempre vai penetrar, mesmo no coração da mais pura linhagem. Esta é a ordem cronológica dos fatos, conforme pesquisa intensa, para elucidar detalhes históricos que nos tornaram quem nós somos: a Unificação de Elcaris.

312 Era dos Homens

Os nove filhos de Elcaris já estão bem estabelecidos como “As Nove Casas”. No entanto, o Reino estava quebrantado, dividido pela vontade de cada família, formando assim nove reinos menores e frágeis: 

  • Tereza, descendente de Cadmiano, o primogênito;
  • Safis, descendente de Van der Vaart;
  • Amoni, descendente de Parmates;
  • Jonatas, descendente de Hulles;
  • Leonor, descendente de Eltador;
  • Tácio, descendente de Amaror;
  • Ete-Belazar, descendente de Jotã;
  • Sábenas, descendente de Sargã;
  • Melionar, descendente de Arpade, o mais novo.

No verão, a colheita dos reinos do norte era muito superior à dos reinos do sul, e isso era sempre motivo de disputas que eventualmente evoluíam para conflitos armados. Neste ano, a campanha militar mais proeminente era a de Amoni, liderada pelo seu principal conselheiro, Quedor-Hasar, primo do rei por parte de pai e, portanto, membro da linhagem real.

Segundo o registro de Leomode, cronista da campanha, Quedor-Hasar atacou uma cidade-armazém do reino de Van der Vaart, que ficava em parte dentro das montanhas Corurras. Percorrendo as galerias, ele encontrou tumbas em ruínas de civilizações antigas que foram expulsas por Elcaris. Escritos rupestres e documentos em placas de pedras que ninguém conseguia decifrar, mas que chamaram a atenção de Quedor-Hasar.

313 Era dos Homens

No inverno que inaugurou o ano 313, Quedor-Hasar retorna ao rei Amoni com uma grande quantidade de despojo, o que agradou muito ao rei. Portanto, Quedor-Hasar pede permissão para se ausentar por alguns meses enquanto estuda os artefatos encontrados nas montanhas. Ele leva consigo dois jovens aprendizes, Elídia e Ronã, e ficam isolados, totalmente concentrados em desvendar os segredos terríveis daquelas pedras.

Ao fim do inverno, Tereza, de Cadmiano, exige uma audiência com todos os nove reis para tentar resolver suas diferenças. Mas acaba por culpar diretamente ao rei Amoni, devido a sua grande campanha militar contra Van der Vaart. A reunião é um fracasso completo, e Amoni rompe relações com Tereza, Jonatas e Leonor.

Neste mesmo ano, o quarto filho de Amoni, Adonis, nasce. Ele era maior que todos os outros três filhos anteriores, e o rei passou a depositar grandes expectativas nele.

316 Era dos Homens

O rei Amoni começa a ficar impaciente com Quedor-Hasar, e ordenou que ele comparecesse à presença do rei antes do início da campanha militar, que se iniciaria no verão deste ano. O conselheiro aparece na data marcada sozinho e diz estar pronto para realizar os primeiros testes dos seus conhecimentos recém adquiridos.

Não há muitos relatos sobre a campanha militar de 316 contra Cadmiano. Embora a cidade-real não tenha sido alvo, praticamente não houve sobreviventes cadmianitas dos vilarejos atacados. Quanto aos soldados parmateses, os que voltaram vivos não voltaram sãos mentalmente.

Ao se apresentar novamente ao rei Amoni, dessa vez junto de seus aprendizes, suas explicações não foram bem aceitas pelo rei. No entanto, o rei ainda valorizava seu conselho, e por isso decidiu não o punir. Por isso, designou Amoni II, seu filho mais velho, como novo comandante militar. Isso desagradou muito a Quedor-Hasar, que julgava Amoni II como “um desastre” intelectual. De certa forma, Quedor-Hasar estava certo.

Amoni II decide iniciar uma campanha relâmpago contra Cadmiano para capturar a rainha Tereza na cidade-real, Tirínia. Seria um cerco longo e impossível de manter no inverno, mas por ser um homem carismático, ganhou a permissão do rei, desde que levasse consigo Quedor-Hasar como conselheiro. O cerco não durou mais do que doze dias, voltando assim Amoni II com menos da metade do seu contingente, junto com uma derrota que ressoaria por todos os nove reinos.

Diante do rei, Amoni II atribui o fracasso aos conselhos de Quedor-Hasar, e pediu que ele fosse destituído de seu cargo, pois “a idade já o estava impedindo de ser útil aos interesses do rei”. O rei não atendeu imediatamente ao pedido de Amoni II, mas mesmo assim Quedor-Hasar ficou profundamente ofendido e também irritado. De fato, Amoni II era um tolo incapaz de compreender regras simples de uma batalha, quanto menos sobre administração de um reino.

317 Era dos homens

No iniciar do inverno, Quedor-Hasar se isola novamente para continuar seus estudos sem a permissão do rei, que não se importa muito, já que isso evitaria conflitos com seu filho.

Amoni II consegue algumas campanhas vitoriosas contra mercadores marítimos, e começa a ganhar algum prestígio. Mas o reino ainda fragilizado pela derrota diante de Tereza ainda temia uma coalizão dos outros reinos do norte, conforme apontado pelo próprio Quedor-Hasar antes de partir. Por isso, o rei Amoni queria uma forte campanha neste verão. Coincidentemente, Quedor-Hasar volta, agora mais pálido e magro, se apresenta ao rei, que decide enviá-lo novamente em campanha. 

Amoni II se sente injustiçado e vai, dois dias depois, se juntar à campanha. Enquanto discutiam as estratégias, Amoni II chega na tenda de Quedor-Hasar e o confronta na frente dos outros líderes militares, desafiando-o. Apesar de habilidoso, Amoni II não conhece o poder do novo Quedor-Hasar, que facilmente o mata, e então o reestabelece como um escravo morto-vivo. Os líderes ficam aterrorizados com o que vêem. Alguns tentam fugir, outros tentam atacá-lo, mas Quedor-Hasar e seus dois aprendizes matam a todos e os conduzem como escravos. Quedor-Hasar tem mais certeza do que nunca agora: ele é o homem mais indicado para continuar a linhagem real.

A campanha é um sucesso, e Quedor-Hasar volta novamente com um grande despojo. Ao chegar no palácio, sua primeira ação é deixar metade do despojo com os soldados que o acompanharam, e a outra metade nas ruas, para os habitantes da cidade. Ouro, prata, jóias, armas, roupas, e bebida – muita bebida.

O rei não se agrada disso e adverte Quedor-Hasar publicamente, mas ele o ignora. Ao ver seu filho Amoni II, o rei o chama à sua presença, mas este também o ignora. Nenhum dos homens na companhia de Quedor-Hasar o obedece, alguns por medo, outros por que já estão mortos.

O rei convoca a guarda real e vai até a casa de estudos de Quedor-Hasar, que agora estava se transformando numa verdadeira fortaleza. No entanto, ele os deixa entrar amigavelmente, e faz questão de atendê-los sem escolta em seu salão de recepção. Não se sabe o que eles discutiram naquela ocasião. O que se sabe é que eles saíram pacificamente, com expressões duras como pedra. Quedor-Hasar voltaria a exercer seu cargo de conselheiro principal e estaria sempre ao lado do pálido e frio rei, junto com seus dois aprendizes.

O ano de 317 foi bem longo para os parmateses. Duas ramificações da família real, ao notarem que Amoni estava agindo estranho, tentaram tomar o poder à força, mas foram facilmente repelidos pelos aprendizes de Quedor-Hasar. Ele então decide eliminar toda a família real, deixando sobrar apenas Adonis, com 4 anos, que foi levado por sua ama de leite secretamente para Edes-Carmesin, em Bertoria. Quedor-Hasar passa a dominar todas as esposas e consortes da família real, e se torna a única linhagem conhecida naqueles dias.

318 Era dos Homens

O terrível período conhecido como Guerra dos Mortos iniciou-se com um movimento incomum de Quedor-Hasar: ele começou uma campanha militar no inverno. Com um pequeno grupo de batedores, ele ataca pequenos vilarejos dos reinos ao norte e portos comerciais. A cada saque, seu exército aumentava, e rumores se espalhavam de que uma praga estava se espalhando com o inverno.

A temida coalizão dos reinos do norte estava se formando, como Quedor-Hasar havia previsto. Eles logo lutariam, próximos às montanhas Corurras. Tereza, Safis, Leonor e Jonatas viram seu poderoso exército ser convertido em servos frios de um líder que exalava morte. Isso os obrigou a abandonar seus palácios, em caravanas enormes, e buscar refúgio nos reinos do sul, enquanto que os camponeses ou se juntavam a Quedor-Hasar, ou fugiam para nações estrangeiras. Em menos de seis meses, os quatro reinos do norte, incluindo a cidade-real, estavam nas mãos de Quedor-Hasar.

A reunião dos oito reinos foi convocada em Hátis, na Baía de Marfim, palácio do rei Tácio. A ameaça de Quedor-Hasar era unanimemente temida por todos, mas ainda existiam controvérsias sobre a credibilidade das histórias contadas. Alguns ainda duvidavam do exército de mortos-vivos, assumindo que o que estava acontecendo eram simples deserções. Essas discussões tomaram muito tempo, e permitiu que Quedor-Hasar se fortalecesse ainda mais, adquirindo para si inclusive uma terrível besta, um dragão da montanha, escravizado pelo seu poder dos mortos.

Entre as lideranças na reunião de Hátis, estavam os três filhos de Melionar: Melionar II, Essos, e Jona. Os três eram guerreiros extremamente habilidosos, sendo o mais novo, Jona, o mais destacado, conhecido como o Lanceiro do Rei. Eles representavam o rei Melionar, e deixaram claro a sua posição de enfrentar Quedor-Hasar o quanto antes.

As notícias do Rei dos Mortos se espalhavam ao redor do mundo. E muitas comitivas enviavam presentes para Quedor-Hasar a fim de ganhar o seu favor. Seu poder também aumentava, conseguindo o domínio de hordas cada vez maiores, não apenas de homens, mas também de animais, a um custo pequeno, na sua visão, do seu vigor físico. E é claro, o seu dragão da montanha era um poderoso trunfo, além de uma grande massagem para seu ego. Ao voltar para a Fortaleza Cinzenta, nome que deu ao seu antigo local de estudos, seus planos começaram a ambicionar não apenas os reinos elcarianos, mas também todo o mundo conhecido.

Antes da chegada do inverno, Quedor-Hasar recebe uma mensagem da rainha Tereza. Seus crimes não seriam mais tolerados, e agora ele teria de enfrentar a fúria dos oito reinos unidos em uma batalha decisiva na porta de sua casa ao iniciar a primavera. Quedor-Hasar não poderia estar mais feliz.

319 Era dos Homens

Um ancião bertoriano se identificando por Amiego, solicita uma audiência com a rainha Tereza em Hátis. Aparentemente um refugiado elcariano chegou até ele e contou as atrocidades que ele presenciou em batalha. Acontece que Amiego conhecia a arte que Quedor-Hasar estava usando, já que seus antepassados lutaram nos montes Corurras contra uma seita pútrida que venerava os mortos. Eram soldados incansáveis, que não sentiam dor e nem medo. Apenas uma coisa era eficiente contra eles: o fogo.

No primeiro dia da primavera, os exércitos da coalizão elcariana marchavam nas colinas que cercam a Fortaleza Cinzenta. As hordas de Quedor-Hasar também estavam de prontidão, algumas visivelmente feridas, faltando um braço ou parte da cabeça, mas mesmo assim firmes e imóveis em sua posição com suas armas. O relato desse combate é contado em detalhes no livro do cronista de guerra Isidoro, súdito da rainha Tereza. Farei aqui um resumo dos acontecimentos.

A estratégia das tropas elcarianas era avançar pelo terreno mais alto com a infantaria, e manter posição na metade dos montes. Trabucos improvisados atacavam a fortaleza do alto dos morros, e eram propositalmente alvos fáceis para o dragão de Quedor-Hasar. Quando este apareceu, eles o atacaram com os arpoeiros escondidos nas carroças de suprimento, segundo a estratégia de Melionar II. A primeira parte do plano deu certo, e o dragão foi facilmente abatido, o que despertou a fúria de Quedor-Hasar.

A trombeta toca na Fortaleza Cinzenta, e as tropas de Quedor-Hazar se movimentam. Uma nuvem de chuva começa a surgir sobre o castelo, e mais mortos-vivos passam a vir das montanhas, alguns esqueletos saindo até mesmo do chão. Os elcarianos mantêm a posição, com lanceiros e alabardeiros à frente. Companhias de Cavalaria se mantêm nos flancos, mas em posições defensivas. Quedor-Hazar quer atraí-los, e por isso coloca seus soldados mais frágeis à frente.

Quando os dois exércitos se encontram, Tereza dá a ordem, e os trabucos passam a lançar cargas de óleo sobre os inimigos, enquanto a infantaria luta contra os mais frágeis que ainda estão secos. Rapidamente o exército de Quedor-Hazar é incendiado, e ele percebe estar perdendo o controle deles. Em um movimento desesperado, ele se esforça para estender a nuvem de chuva sobre eles, apagando o fogo, e liberando assim caminho para a cavalaria atacá-los enquanto estão incapacitados. Para cada decisão de Quedor-Hazar, os elcarianos pareciam estar um passo à frente.

Por fim o próprio Quedor-Hazar, sendo ainda um grande combatente, decide ir para a frente de batalha. Apesar de velho, ele ainda tinha algum vigor, mas principalmente, tinha um domínio muito perspicaz do que viria a ser conhecido como Necromancia à curta distância. Bastava um toque e seu inimigo era contaminado, iniciando vômitos e convulsões até estar completamente convertido em um morto incansável.

Apesar do forte golpe, o exército de Quedor-Hazar ainda era muito grande, contando soldados e feras da floresta. Muitos bons homens morreram naquele dia de batalha, que durou até quase meia-noite. Isidoro destaca bastante as ações dos três filhos de Melionar: como eles derrotaram o dragão, pressionaram os flancos, e chegaram até mesmo a lutar contra o próprio Quedor-Hasar. O trio, apesar de jovem, era bastante experiente em combate, e certamente possuíam um talento especial. Mesmo assim, lutar contra um necromante colocava suas vidas em risco.

De acordo com Isidoro, Melionar II, o mais inteligente, seria a isca e atrairia os soldados mais próximos de Quedor-Hasar, verdadeiros colossos de armadura. Essos manteria seu apoio com o arco, mirando sempre nas juntas de modo a atrapalhar os movimentos dos soldados, enquanto que Jona enfrentaria diretamente Quedor-Hasar. O combate terminou com a morte dos dois primeiros, e Jona empalando a cabeça de Quedor-Hasar com a sua lança, inutilizando assim todo o exército dos mortos. Os aprendizes, Elídia e Ronã, não foram encontrados, mesmo porque o mal-cheiro das pilhas de corpos não era nem um pouco convidativo para buscas.

Esta grande crise custou muitas vidas e fragilizou muito os nove reinos. Porém, um grande senso de comunidade surgiu naquele dia, deixando claro que eles eram todos irmãos, afinal, filhos de um mesmo pai.

Tereza reconhece Jona Arpade como o Herói de Guerra, e entrega a Coroa de Tirínia para ele, tornando-se assim o primeiro Rei das Nove Casas de Elcaris. Tereza também dá a sua filha mais nova, Ana, como esposa para Jona.

Ao assumir seu lugar no trono, Jona elabora seu primeiro decreto: o modelo de governo que vigorará no recém formado Reino Unido de Elcaris: 

  1. O Rei designado não terá autoridade absoluta, e governará de acordo com os interesses das nove casas, que agora servem como suseranos do Rei. 
  2. O próximo rei não será escolhido pelo rei anterior, mas sim por uma votação entre as lideranças das nove Casas Suseranas.
  3. O Rei não pode acumular as funções de Rei e Líder de Casa Suserana. Ao se tornar Rei, o Líder deve designar outro para ocupar seu antigo posto.
  4. A autoridade do Rei pode, e deve, ser questionada pela maioria quando parecerem impróprias ou injustas. As lideranças poderão retirá-lo do trono pacificamente, mediante apoio da maioria, e estabelecer um novo rei, conforme orientado no ponto 2.
  5. Qualquer Rei ou Líder de Casa que praticar, incentivar, ou cultivar conhecimento da Necromancia, a Arte dos Mortos, será sumariamente executado, junto com todos os seus apoiadores, sejam elcarianos ou estrangeiros, reis ou camponeses, crianças ou idosos. A guerra perseguirá e certamente alcançará a todos que se declararem MAUS por aderirem a tal prática.

Enciclopédia Elcariana de História Moderna, Verão de 623 Era dos Homens
Biblioteca Real de Elcaris – Tirínia.
Cópias proibidas sem a autorização real, sob pena de execução.

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